Alter do Chão e as águas do Tapajós – parte 1
- Virna Miranda
- 2 de nov. de 2020
- 7 min de leitura
Atualizado: 26 de jul.

Depois do nosso reconhecimento inicial da vila de Alter do Chão (veja mais nesse post), hora de embarcar para conhecer as belezas guardadas pelo rio Tapajós. A região oferece muitas opções de passeios: praias, lagos escondidos por dunas de areias, comunidades locais, igarapés, observação de tartarugas, vitórias-régias, trilha na floresta... Vai do gosto e tempo que cada um terá. Nós passamos apenas 3 dias na e achei que merecia mais uns 2 para os passeios mais distantes. Por conta do tempo escasso, nosso roteiro foi:
- 1 dia conhecendo a vila e curtindo a praia da Ilha do Amor
- 2 dias de passeio de barco com rotas diferentes:
Um dia “descendo” o rio, com paradas em praias que ficam entre Alter e Santarém – esse trecho é considerado “rio aberto”, as águas são um pouco mais agitadas, mas nem por isso os lugares deixam de ser lindos!
Um dia “subindo” o rio, com paradas em praias e enseadas entre Alter e a Praia de Maguari – esse trecho lembra mais uma baía, as águas são mais tranquilas, com muitas enseadas no caminho.
Como contratar e quanto custa um passeio de barco em Alter do Chão?
Os passeios de barco geralmente duram um dia inteiro e são facilmente contratados na própria vila, podendo se optar por excursões coletivas ou particulares, e ainda por barcos motorizados de madeira (conhecidos como gaiolas), que são mais lentos ou por lanchas rápidas (na verdade são barcos de alumínio com motor de popa).
Os passeios coletivos custam em média R$ 150 por pessoa, dependendo do roteiro. Já os particulares custam a partir de R$ 400 para o grupo, dependendo do roteiro, que nesse caso você pode definir junto com o profissional, e do número de pessoas (que definirá o porte da embarcação).

Em geral, os lancheiros só aceitam dinheiro, nada de cartão. Nas praias, algumas barracas aceitam cartão de débito, mas o sinal das maquininhas é péssimo. Para completar, não tem banco em Alter do Chão, apenas um caixa 24 horas dentro do mercadinho, então não vale a pena arriscar. É bom ir prevenido e levar o que você pretende gastar em dinheiro mesmo.
Seja qual for sua escolha, só contrate barqueiros associados da ATUFA (Associação de Turismo Fluvial de Alter do Chão), que conta com 42 profissionais regulamentados, que seguem todos os procedimentos necessários para você fazer seu passeio em segurança.

Não subestime as águas do rio, tem vários trechos com bancos de areia que podem encalhar o barco, se chover ou entrar um vento, o barco bate muito, alguns roteiros possuem trechos com ondas, então contar com um profissional experiente é fundamental para que você curta seu programa sem correr riscos desnecessários por pequenas economias.
Você pode contratar seu passeio no quiosque da ATUFA que fica na orla da vila (bem fácil de achar). No nosso caso, como era feriado e queríamos fazer passeios particulares por conta do isolamento em tempos de pandemia, pedimos uma indicação de lancheiro para um amigo, que nos deu o contato do Carlinhos, profissional associado da ATUFA, com 14 anos de experiência nas águas do Tapajós.

Fechamos com antecedência nossos 2 passeios com ele e foi perfeito. Ele organizou o dia com as paradas que sugerimos e também nos apresentou outros lugares incríveis ao longo do trajeto. Carlinhos se revelou um ótimo profissional, atencioso e cuidadoso e nos deixou super a vontade. Fica aqui o contato dele.
Carlinhos (lancha Excalibur): 93 9208-7258
Nesse post, vou contar como foi o nosso passeio “descendo” o rio. Para saber como foi o passeio “subindo” o rio, leia o post “Nas águas do Tapajós – parte 2”.
Como foi nosso passeio
Saímos de Alter do Chão às 10h da manhã. O dia estava lindo e já na saída ficamos encantados com o que nos esperava. Com o rio bem baixo, forma-se uma enseada em frente ao cais, com muitos barcos ancorados, a Ilha do Amor ao fundo. Um visual lindo.
Embarcamos e partimos para nosso passeio. Na medida que a lancha foi se afastando da enseada e se dirigindo para as águas abertas do Tapajós, podemos admirar a cidade de longe. Logo, pegamos nosso rumo em direção ao primeiro destino do dia: a Praia Ponta de Pedras. Nesse trecho, pegamos algumas ondulações e nos sentimos navegando pelas águas da Baía de Todos os Santos. A água é de um azul tão lindo que você não se sente em um rio, e sim no mar.

Abaixo das águas, o rio Tapajós guarda uma fauna incrível: pirarucus, tucunarés, surubins, arraias, tracajás (tartarugas), botos... incluindo o famoso boto cor de rosa, que povoa muitas lendas locais. Não deixe de observar a flor da água, se der sorte como nós, poderá se surpreender com algum boto que vier à tona respirar. Cerca de 40 minutos depois, chegamos na Ponta de Pedras.
Ponta de Pedras

A Ponta de Pedras é uma das paradas clássicas dos passeios de barco. O lugar é bonito, mas achamos muito cheio. Como também é possível acessar essa praia de carro, muita gente vem de Santarém curtir o dia em alguma das muitas barracas que ficam no local.
Andando um pouco pela enseada formada à direita, você chega em um trecho mais tranquilo da praia. Ficamos pouco tempo lá, o suficiente para dar um primeiro mergulho no Tapajós – estávamos ansiosos por esse momento. As águas são mornas e tranquilas, mas nessa praia o chão é meio lodoso... Em outras que fomos depois pudemos curtir o banho pisando em areia mais durinha.



Nas praias que oferecem estrutura de barracas, é possível tomar uma cervejinha gelada ou uma caipirosca de frutas regionais e comer um peixe fresco assado ou frito na hora. Os preços são acessíveis e os pratos bem servidos. Mais uma vez, dê prioridade ao dinheiro; quanto mais distante a praia, maior será a dificuldade em usar máquinas de cartão.
Restaurante Casa do Saulo
Mas, nesse dia, nosso almoço seria em um lugar especial: estava em nosso roteiro conhecer a Casa do Saulo, restaurante do chef paraense Saulo Jennings. Conhecemos Saulo durante um almoço na filial de Belém (fica na Casa das Onze Janelas no centro antigo), onde já nos encantamos pelo inventivo cardápio. Bastou 10 minutos de conversa para Saulo e Zeca se tornarem “amigos de infância” e sermos “intimados” a conhecer o restaurante de Alter, que segundo o chef “é outro astral”. Quem era doido de não conferir??? Então, lá fomos nós conferir. Mais uns 20 minutos de navegação, chegamos na praia que fica em frente à Casa do Saulo.

Só para esclarecer, Saulo mora de fato por essas bandas (distante uns 10 minutos de carro de Santarém). A casa dele fica literalmente “em cima” do restaurante, que na verdade é mais que um restaurante. É uma espécie de “oásis”, com diversos ambientes para apreciar drinks, tira gostos e almoçar, piscina para distrair as crianças e espreguiçadeiras para curtir a preguiça pós almoço enquanto se admira a vista espetacular do Tapajós. Tem até um anfiteatro e uma horta no local, que é bem concorrido para festas e casamentos. O restaurante fica no alto, então dê um mergulho no rio para refrescar, tome fôlego e prepare as pernas para subir as escadas que levam da praia até lá.

Chegamos na hora do “rush” e sendo feriado, o restaurante tinha fila. Mas como éramos apenas um casal, foi rápido conseguir uma mesa. Fomos recebidos por Saulo, que fez questão de nos mostrar o lugar e contar um pouco da sua história.
Depois do nosso “tour” especial, nossa mesa já estava disponível. Almoçar na Casa do Saulo é uma experiência que recomendamos muito: o cardápio é incrível e a comida deliciosa. Drinks coloridos e refrescantes para abrir o apetite, como caipirosca de caju e moscow mule de taperebá, petiscos de dar água na boca, até chegar nos deliciosos peixes amazônicos, fresquinhos, com temperos e acompanhamentos deliciosos. Escolhemos o “Boto Cor de Rosa”, nome dado ao tradicional Pirarucu de Casaca. É de lamber os beiços, como dizemos na Bahia.
Depois desse almoço incrível, nos despedimos já saudosos do nosso amigo Saulo e descemos para pegar nossa lanchinha rumo ao próximo destino. A tarde já ia pelo meio e nossa programação era assistir ao por do sol na famosa Ponta do Cururu.
Jutubinha
Mas antes, Carlinhos nos levou para conhecer duas praias incríveis. A primeira parada foi em Jutubinha, lugar tranquilo, de água morninha, quase deserto. Uma delícia... Nem queríamos sair mais de lá.


A lagoa escondida da Praia do Jacaré
Em seguida, fomos até a Praia do Jacaré, outro lugar paradisíaco, que guardava uma surpresa: um lago escondido atrás de uma duna de areia. Esses lagos são bem comuns nessa região. Na verdade, são águas do Tapajós que ficam represadas quando o rio desce na época da seca. O curioso é que peixes e arraias acabam ficando “presos” nesses lagos aguardando a próxima subida das águas. Então, nem pensar em tomar banho, por mais convidativo que seja o visual.
Por do Sol na Ponta do Cururu
O dia chegava ao fim e partimos então para nosso último destino: o esperado por do sol na Ponta do Cururu. O lugar é bem concorrido para essa programação, então se você não é muito chegado a aglomerações, há de ter um pouco de paciência. Já na chegada você precisa procurar uma “vaguinha” para estacionar seu barco em meio a dezenas de embarcações. Depois, tente achar um “cantinho” pra chamar de seu na pontinha da praia, onde se tem o melhor ângulo do por do sol.
Entre no rio para tomar o último banho do dia (a água continua quentinha) e espere a natureza fazer a parte dela.

O espetáculo fará valer a pena sua tolerância com as trilhas sonoras de gosto duvidoso vindas dos barcos estacionados e com eventuais “vizinhanças” meio espaçosas.
Mas esses são pequenos detalhes que não ofuscaram as emoções e a beleza do nosso dia espetacular navegando nas águas do Tapajós. Tomamos nosso barquinho de volta para a Vila de Alter de onde podemos ver o final do espetáculo a bordo do nosso "camarote" particular.

Chegamos com a noite caindo, cansados, felizes e já ansiosos para nosso próximo passeio no dia seguinte.
Para saber mais sobre nossa experiência em Alter do Chão, leio os outros posts dessa série:
コメント