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Um dia no Lago Trasimeno
- Virna Miranda
- 6 de abr.
- 5 min de leitura
Foi meio sem pretensão e totalmente sem planos que resolvemos conhecer o Lago Trasimeno, na região da Úmbria. Enquanto estudava o roteiro que faríamos na viagem pelo interior da Itália, algumas fotos desse lago me chamaram a atenção e também o fato de que ficava pertinho da Toscana, que exploraríamos de carro por cerca de uma semana. Mas tinha tanta coisa para ver na região, que a princípio nem chegamos a considerar de fato ir para outras bandas.
Já estávamos há cinco dias imersos entre vinhedos, campos dourados e vilarejos medievais do Chianti e do Val d’Orcia, quando bateu aquela vontade de mudar de ares. Nossa intenção era seguir para o Val D'Elsa para conhecer Siena, San Gimignano e Volterra, e de lá devolver o carro em Florença. De repente, chegamos à conclusão de que já estava bom por hora de vilarejos medievais vinhedos, e campos de trigo. E assim, de última hora, decidimos mudar de ares e aproveitar o tempinho que nos restava de Itália para descobrir o tal Trasimeno.
Saímos de San Quirico d’Orcia rumo a Passignano sul Trasimeno, a principal cidade à beira do lago. Foram cerca de 85 km em pouco menos de 1h30 de estrada tranquila e bonita. O Trasimeno, aliás, é o quarto maior lago da Itália — perde apenas para os famosos Garda, Maggiore e Como — mas ainda assim permanece relativamente fora dos holofotes, principalmente entre os brasileiros. Isso, pra mim, já era um bom sinal.
Cercado por pequenas cidades e vilarejos encantadores, o lago é perfeito para quem busca paisagens tranquilas, caminhadas à beira da água, passeios de bicicleta ou de barco, e uma boa dose de contemplação. A estrada que o contorna tem pouco mais de 60 km e permite um passeio cênico e tranquilo ao redor do espelho d’água.
Pouco antes de chegar a Passignano, onde ficaríamos hospedados, demos de cara com um pequeno parque à beira do lago, com um chalezinho de madeira simples e charmoso, que servia sucos, tira-gostos e outras cositas... Estacionamos para tirar umas fotos e, quando vimos, já estávamos sentados em uma das mesinhas do gramado, tomando uma cerveja e tentando absorver aquele lugar calmo, bonito, meio escondido do mundo. E foi ali que o Trasimeno começou a nos conquistar.
Seguimos viagem e logo chegamos ao nosso hotel - o Kursaal, que também ficava à beira do lago. Descobrimos que o lugar era um híbrido de hotel e camping de motorhome — o que achamos o máximo. Um jardim florido, estrutura com piscina, restaurante grande e um ambiente acolhedor.
Ficamos em um pequeno apartamento com um balcão florido com vista para o lago. Um encanto.
O hotel oferecia bicicletas gratuitas, então trocamos de roupa e decidimos pedalar pela cidade. Passignano tem uma orla deliciosa, com ciclovias e calçadão. É uma das cidades mais turísticas da região, com um lindo píer de madeira, restaurantes e cafés com mesas ao ar livre. Tudo muito leve, com aquele clima de “verão à beira do lago” que parece não ter pressa.
Perambulamos pedalando pela orla e resolvemos parar para almoçar. Escolhemos um lugarzinho charmoso, onde conseguimos uma mesinha na pequena varanda para degustar deliciosos pratos de frutos do mar - especialidade da região, acompanhados de um delicioso vinho branco gelado.
Depois de pedalar por um tempo, resolvemos parar para almoçar. Escolhemos um lugarzinho charmoso, onde conseguimos uma mesinha na pequena varanda de onde se via o vai e vem tranquilo do lago. Comemos massas com frutos do mar, especialidade da região e que eu amo, acompanhados de um vinho branco geladinho. Simples, saboroso e perfeito.
Como ameaçava cair uma chuvinha, pedalamos de volta para o hotel para devolver as bikes. Quando a chuva veio, já estávamos abrigados na varanda do restaurante do hotel, tomando café e dividindo uma tacinha de licor. Ficamos vendo a chuva cair sobre o lago, um cenário quase cinematográfico. Engrenamos um gostoso papo com um casal de holandeses sentado na mesa ao lado, que nos contou de suas aventuras por muitos lugares da Europa a bordo de um motorhome. A conversa nos inspirou e ficamos matutando sobre a possibilidade de viver essa experiência algum dia.
No final da tarde, a chuva passou. Pegamos o carro e resolvemos dar a volta no lago de carro, parando em pequenas cidades, como San Feliciano, Tuoro e Castiglione del Lago, para tirar fotos e admirar a paisagem.
Em alguns trechos, a estrada se afasta um pouco do lago e perde o encanto, mas no geral, o passeio vale muito a pena.
À noite, a chuva voltou, fazia frio, e bateu aquela preguiça de sair... Mas eu tinha lido sobre um restaurante que me deixou intrigada, então resolvemos ir. E ainda bem! Era uma noite chuvosa de semana, a cidade estava vazia, e o restaurante — escondido no alto de um morro — parecia um segredo bem guardado. Estava vazio, estacionamos. De cara, me apaixonei pelo lugar.
O restaurante se chama Il Fischio del Merlo, que em italiano significa "o assobio do melro" — e melro, para quem não sabe (eu achava que era um peixe! kkk), é um passarinho. A casa era um charme: grande, com varandas iluminadas por luzinhas pequenas. Do lado de dentro, um verdadeiro espetáculo. Mesas postas com toalhas de renda e louças de porcelana, se espalhavam por uma grande sala cheia de obras de arte - quadros, esculturas, luminárias...por todos os lados. Parecia que estávamos sendo recebidos para jantar na casa de amigos muito elegantes.
Logo fomos recebidos com extrema simpatia e acomodados em uma das mesas. Pedimos vinho e nos preparamos para saborear uma das melhores refeições de toda a viagem. A apresentação era digna de restaurante Michelin... Eu comi um prato chamado "Carbomare". Dispensa explicações...
O garçom nos contou que o dono — que estava sentado numa mesa próxima — era apaixonado por cavalos, por isso tantas esculturas e quadros com o tema. Depois, nos convidou a conhecer a adega escondida, reservada para jantares especiais. Um deslumbre de lugar e um encerramento digno para os nossos dias de Itália.
No dia seguinte, partimos cedo rumo a Florença, onde devolveríamos o carro e passaríamos mais uma noite antes de pegar o trem para Roma, de onde sairia nosso voo de volta para Lisboa e, depois, para o Brasil.
Aliás, se você leu os posts dessa viagem até aqui, merece uma dica bônus: dá para pegar o trem direto de Florença para o aeroporto Fiumicino, em Roma. Você desce dentro do aeroporto, sem precisar de transfer. O trem é super pontual, então se o horário for compatível com seu voo, vale a pena — você economiza uma diária de hotel e o deslocamento até o aeroporto. A gente fez isso e funcionou perfeitamente!
E assim nos despedimos da bela e surpreendente Itália. Uma viagem de sonho, com arte, cultura, história, gastronomia, castelos, vinhedos, lagos... Como ouvi em um podcast de um casal brasileiro que vive em Portugal e já foi 8 vezes à Itália: esse é um país múltiplo, que tem tanto, mas tanto a oferecer, que merece muitas voltas.
Ciao, Itália. Até qualquer hora.
Para saber mais sobre nossa viagem pela Itália, leia também os outros posts dessa série: