Sob o sol da Toscana - parte 2
- Virna Miranda
- 23 de mar.
- 12 min de leitura
Atualizado: 6 de abr.
Na primeira etapa da nossa viagem pela Toscana, exploramos a deslumbrante região do Chianti. Foram três dias intensos conhecendo vilarejos charmosos e apreciando paisagens de vinhedos que pareciam pinturas renascentistas. Escolhemos Castellina in Chianti como base, e de lá partimos para explorar cidades encantadoras como Radda in Chianti, Gaiole in Chianti, Montefioralle, Volpaia e outras joias escondidas da região.

Os detalhes desse primeiro roteiro, eu conto nesse outro post: Sob o sol da Toscana - parte 1.
Após essa imersão no Chianti, seguimos de carro rumo à segunda etapa da nossa expedição: o Val d'Orcia, cenário de algumas das mais belas paisagens da Itália, e, para muitos, o ponto alto dos passeios pela Toscana. Campos intermináveis, mirantes de tirar o fôlego, alamedas de ciprestes, belas estradas panorâmicas e vilas medievais, com ruas e casas de pedras, aqui encontramos a Toscana clássica, conhecida por famosas fotos de revista e cenas de filmes. Além dos inúmeros lugares e atrações impressionantes em Val d'Orcia, come-se (ee bebe-se!) muito bem nessa região conhecida especialmente pela produção do vinho mundialmente famoso Brunello di Montalcino.

Fizemos o check out da nossa pousada em Castellina e depois de passarmos a manhã explorando pequenas vilas da região, pegamos a estrada rumo a San Quirico d'Orcia, nossa próxima base pelos próximos 3 dias. Apenas 70km separam as duas regiões, e no finalzinho da tarde chegamos a tempo de fazer um primeiro reconhecimento da pequena mas acolhedora San Quirico.
San Quirico d'Orcia
San Quirico d'Orcia é uma cidadezinha encantadora, localizada no topo de uma colina e conhecida por sua arquitetura medieval, cercada por muralhas. A vila é bem pequena, com cerca de 2.500 habitantes. Dentro dos muros, o centro é um labirinto de ruas estreitas, ladeadas por antigos edifícios de pedra, onde não é permitida a entrada de carros.

Ficamos no Boutique Villa Liberty, um hotelzinho boutique, pequeno, mas hiper charmoso, estrategicamente localizado a cerca de 200 metros do portal de entrada da cidade.
O Villa Liberty faz parte de uma rede chamada Borgo Capitano Collection, que inclui outros hotéis, inclusive um chiquérrimo, dentro dos muros, e dois restaurantes, ambos também no centro histórico - um mais simples, onde é servido o café da manhã, e outro mais sofisticado, o Al Vecchio Forno, onde é possível jantar em um jardim - uma experiência que recomendamos.



Depois de fazer o check in e nos acomodarmos no hotel, partimos para explorar a cidade. São poucas ruas, então em menos de uma hora dá para ver tudo que há para ser visto.
A cidade tem um lindo jardim renascentista com seu labirinto.
Um dos destaques é sem dúvida o por do sol espetacular no vale, do alto da muralha de pedra.

No dia seguinte, logo após o café da manhã, saímos para explorar o Val D'Orcia. San Quirico é uma excelente base para conhecer algumas das cidades mais icônicas da região, como Montepulciano, Pienza e Montalcino. Esta última, além de ser famosa pelo vinho Brunello di Montalcino, é também cenário de filmes memoráveis, como O Gladiador.
Ao longo das estradas que conectam essas vilas medievais, as paisagens repletas de alamedas de ciprestes e campos de trigo representam a essência mais genuína de tudo que se possa imaginar da Toscana. Durante as pesquisas de planejamento da viagem, encontrei em um blog uma indicação da localização exata de alguns desses spots fotográficos, que reproduzi nesse mapinha, que você pode ver também no My Maps.

Escolhemos alguns desse pontos para conhecer durante o nosso passeio. Essa é uma grande vantagem desse estilo de viagem que amamos: estando por nossa conta e sem pressa para chegar a lugar algum, a gente vai se perdendo e parando onde der na telha para curtir o visual, tirar fotos e curtir o espírito desse lugar mágico.
Capella Madonna di Vitaleta

A Cappella Madonna di Vitaleta é uma pequena capela aninhada em uma paisagem de conto de fadas. A igreja foi construída no Século XII e restaurada em 1884. Graças ao cenário encantador que a rodeia, ela tornou-se um marco no Vale d'Orcia e um dos pontos fotográficos mais populares da Toscana.

Ciprestes de San Quirico D'Orcia
Um lugar intrigante e que também rende fotos incríveis são os ciprestes de San Quirico d'Orcia, também conhecidos como Cipressi di San Quirico d'Orcia. Localizada em um campo ao lado da estrada SR2, entre Montalcino e San Quirico, esta pequena floresta circular no meio de um campo forma um anel cortado por uma estrada de terra. Mas não é possível atravessar o círculo de ciprestes com o carro, que fica estacionado a poucos metros do local.





Seguimos viagem até nosso próximo destino: a famosa vila de Montalcino. No caminho, acabamos nos "perdendo" por pequenas estradinhas de terra, que nos transportaram para a verdadeira essência rural da Toscana, cercada de campos de trigo que dançavam ao vento.

Paramos o carro para registrar aquele momento inesquecível.


Eis que surge no meio do nada uma propriedade rural digna de filme - que por aqui eles chamam de "podere". Era uma grande casa de pedra, cercada pelo do horizonte recortado pelas colinas. Não conseguimos descobrir se era um hotel, mas parecia ser algo assim.


Enquanto tirávamos fotos, vimos duas lebres atravessando o caminho de terra. Corremos para registrar a cena, mas elas foram mais rápidas. Mas consegui tirar essa foto onde dá para ver as safadas fugindo da gente pela estradinha.

Retomamos a estrada e à medida que nos aproximávamos de Montalcino, já dava para ver a cidade lá do alto, encrustada no topo da colina, como se estivesse flutuando sobre o vale.


Serpenteamos pela estrada e chegamos até os bolsões de estacionamento que ficam fora dos muros da cidade — o centro histórico de Montalcino, como tantos outros na Toscana, é todo feito para ser descoberto a pé.
Montalcino

Montalcino é uma joia medieval no alto de uma colina do Val d’Orcia, cercada por vinhedos dourados que produzem o icônico Brunello di Montalcino, um dos vinhos mais reverenciados do mundo.
A cidade surgiu por volta do século IX, em torno de um antigo mosteiro, e ganhou importância estratégica durante a Idade Média por sua localização entre as poderosas cidades de Siena e Florença, tornando-se cenário de disputas e batalhas. Seu símbolo é a Rocca, a fortaleza construída em 1361, quando Montalcino passou definitivamente ao controle de Siena. Após a queda de Siena em 1555, a cidade resistiu bravamente por mais quatro anos como último bastião da República Senense.
Hoje, entre ruelas de pedra, escadarias floridas e mirantes com vistas estonteantes, Montalcino preserva esse passado glorioso com um ritmo sereno e uma elegância rústica, onde cada taça de vinho carrega séculos de história. Nossa primeira parada foi a fortaleza medieval que guarda a entrada da cidade, a imponente Rocca di Montalcino, construída no século XIV durante as batalhas entre Florença e Siena. Além das torres e muralhas bem preservadas, a fortaleza abriga uma vinoteca deliciosa.
Resolvemos provar, é claro, uma taça do lendário Brunello di Montalcino, um dos vinhos mais respeitados e premiados do mundo.
Seguimos para explorar as ruas de pedra, as escadarias íngremes e as casas com janelas floridas, que criam um cenário cinematográfico. Enquanto caminhávamos, fomos surpreendidos por uma feirinha de artesanato local em um lindo atrium, com produtos típicos da região: azeites, mel, queijos, vinhos, livros de arte e objetos feitos à mão por produtores da própria Montalcino.
Montalcino é pequena, mas um encanto. Cada beco oferece uma nova vista para o vale, cada canto tem sua luz. Subíamos e descíamos suas ladeiras de pedra com olhos curiosos e alma leve. Paramos para mais uma taça de vinho, enquanto admirávamos o Val d’Orcia se estendendo até onde a vista alcançava, da grande janela de vidro do restaurante.

E vem comigo que o dia ainda reserva muita coisa boa!
Montepulciano

Saindo de Montalcino, seguimos de carro até Montepulciano, nosso próximo destino no Val d’Orcia. A distância entre as duas é curtinha — cerca de 35 km, que passam voando no meio de tanto cenário lindo. E como sempre, o caminho também é parte do espetáculo: vinhedos, ciprestes, colinas douradas… aquele combo que já virou nosso padrão visual toscano.
Montepulciano tem raízes que remontam à época etrusca, mas ganhou importância mesmo na Idade Média, especialmente entre os séculos XIV e XVI, quando ficou sob a influência de Florença. Rival da vizinha Siena, a cidade prosperou como centro agrícola e comercial, o que explica sua arquitetura imponente e bem preservada. Caminhar por suas ladeiras é também caminhar por séculos de história: palácios renascentistas, igrejas e praças revelam o passado grandioso de uma cidade que, mesmo pequena, sempre teve alma nobre. E é dessa terra fértil e cheia de tradição que nasce o famoso Vino Nobile di Montepulciano, um dos primeiros vinhos italianos a receber o selo DOCG — Denominação de Origem Controlada e Garantida.
Ao chegar na pequena vila, estacionamos fora dos muros, como é comum por aqui. Fica a dica importante: o estacionamento é pago por parquímetro, e você precisa escolher o tempo de permanência com antecedência. Melhor calcular direitinho quanto tempo pretende ficar, porque se passar do horário, a multa chega. O parquímetro imprime um ticket com o horário limite, que deve ser deixado visível no painel do carro. Ah! Aproveita para programar o alarme do celular, assim não tem risco de se distrair entre taças de vinho e vistas de perder o fôlego e acabar perdendo a hora. 😉
Assim que entramos no centrinho turístico, fomos surpreendidos por um bar super simpático logo na entrada, daqueles que conquistam com um detalhe. Eles vendem taças de vinho para tomar ali mesmo, do lado de fora, sentado em banquinhos de pedra, com um suporte de ferro cravado na parede pra apoiar a taça — prático e poético. Claro que a gente parou.
Zeca, usando orgulhosamente sua boina italiana (presente de amigos queridos de Venda Nova do Imigrante, na serra capixaba), estava se achando o próprio Don Corleone. Montepulciano é encantadora, mas prepare as panturrilhas: a cidade é cheia de ladeiras e subir suas ruas de pedra exige fôlego (e talvez uma dose de vinho para animar).

Mas a recompensa está em cada esquina: construções históricas, becos com vistas estonteantes, restaurantes, bares e cafés, e lojinhas lindas, com fachadas decoradas de forma tão acolhedora que é impossível não parar para espiar — e fotografar, claro.
Fiquei encantada com as vitrines de produtos toscanos: vinhos, queijos, sabonetes, perfumes, tudo com aquele jeitinho artesanal que faz a gente querer levar a Toscana inteira pra casa.

Foi ali que descobri um dos melhores perfumes que já conheci: o Coccolle di Lavanda, na Borgherello Profumi di Toscana, uma lojinha charmosa que parecia saída de um filme. Eles vendem fragrâncias, velas, sabonetes e perfumes à base de lavanda, todos feitos na região. Uma verdadeira tentação, não resisti e comprei dois frascos - um pra mim e outro pra minha mãe. Quem quiser babar um pouco, o site deles é bolgherello.it.
Depois de tanta andança, bateu a fome. Subimos uma ladeirona até o ponto mais alto da cidade — Zeca foi reclamando metade do caminho e chegamos ofegantes. Nosso destino era a pizzaria Re Al Quadratto, que valeu cada passo. Comemos uma pizza divina, com bordas grossas e recheio generoso, com aqueles produtos maravilhosos da Toscana, de dar água na boca, tipo burrata, prociutto e outras delícias. Queria uma dessas agora mesmo!! Acompanhamos com um rosé geladinho e brindamos mais uma vez às experiências dessa viagem cheia de momentos maravilhosos e inesquecíveis.
Na nossa programação ainda tínhamos um pit stop cinematográfico: queríamos visitar o local onde foi filmada uma cena famosa do filme Gladiador, que fica nos arredores de Montepulciano. A ideia era boa… a execução, nem tanto. O acesso é difícil, o carro fica longe, você vê a casa ao longe, sinceramente, foi um mico. Se alguém te contar que vale a pena: não vale. Quer dar risada? Clica no vídeo!

Momento devidamente registrado, subimos a ladeira de volta e pegamos a estrada de para Pienza, nossa próxima parada no Val d’Orcia.
Pienza

Chegamos a Pienza no final da tarde. Pequena, charmosa e com um ar romântico no ar, o lugar, considerado a “cidade ideal do Renascimento”, nos arrebatou. A vila medieval foi totalmente reformulada no Século XV por ordem do Papa Pio II, que nasceu ali quando o lugar ainda se chamava Corsignano. Ele contratou o arquiteto Bernardo Rossellino, discípulo de Leon Battista Alberti, para transformar sua cidade natal em um modelo de harmonia e beleza urbana — e deu certo: Pienza virou um dos primeiros experimentos de planejamento urbano renascentista da história.
Infelizmente, nossa visita foi um pouco prejudicada por uma série de fatores... Chegamos já no final do dia, portanto, tínhamos pouco tempo. Estava rolando uma filmagem na cidade, que logo descobriríamos se tratar de um filme hollywoodiano, com atores mais que famosos (bateu curiosidade? Continua lendo que conto mais daqui a pouco!). Foi bem difícil encontrar um lugar para parar o carro, pois as áreas de estacionamento ao redor da cidade estavam repletas de enormes caminhões da produtora, com equipamentos, camarins e afins. Pra completar, o céu estava preto e ameaçava cair aquela chuva a qualquer momento. Ai, ai...

Mas quem somos nós para desistir fácil? Depois de muito rodar, encontramos uma vaga! Estacionamos e corremos para chegar antes da chuva. Caminhamos um pouco e logo estávamos no centro da pequena cidade.

Ruas e casas de pedra, sacadas decoradas com roupas penduradas e floreiras, becos charmosos, cafés e restaurantes. A maravilhosa "fórmula" das vilas medievais toscanas renova seu encanto a cada cidade por onde passamos, cada uma com sua própria personalidade. Além de linda, Pienza é também um paraíso para os sentidos. Um dos seus maiores orgulhos é o pecorino di Pienza, um queijo de leite de ovelha com sabor marcante, que você encontra nas vitrines perfumadas das lojinhas locais.
Mais uma vez me peguei encantada com as vitrines decoradas lindamente, cheias de produtos típicos — além dos queijos, vinhos, mel, embutidos, sabonetes, objetos de cerâmica.

Mas foi uma lojinha de brinquedos de madeira que me ganhou de vez. Entramos para comprar lembranças para os netos e eu, confesso, parecia uma criança: fiquei encantada com os balões e marionetes coloridos pendurados no teto, feitos de madeira e pintados à mão.
Foi então que perambulando pelas ruelas, demos de cara com o set de filmagem, bem ali na praça principal, cercado por fitas, cones e figurantes andando pra lá e pra cá, enquanto turistas e locais cercavam o lugar curiosos, tirando fotos e fazendo vídeos. A movimentação era intensa, mas não conseguimos identificar nenhum rosto famoso. Nessa hora, começou a chover e corremos para nos abrigar.

Entramos em um pequeno café, onde finalmente descobrimos que a produção era do filme Jay Kelly, da Netflix, estrelado por ninguém menos que Adam Sandler e George Clooney. Mandamos fotos do set para a família e, claro, todo mundo acreditou que tínhamos esbarrado com os dois pelas ruas de Pienza. Quase deixamos rolar a lenda — mas a verdade é que não demos essa sorte... (Mas eu achei essa foto em um perfil de Instagram de um turista que estava por lá na mesma época, e olha o Clooney aí 👀).

A chuva apertou e nosso tempo se esgotou. Pienza ficou com gostinho de quero mais. Linda, delicada, cheia de história e com uma atmosfera irresistível, ela com certeza vai ficar no roteiro de uma próxima vez. Saímos com a sensação de que só vimos a pontinha do encanto.
Voltamos para San Quirico d’Orcia, onde estávamos hospedados e de onde partiríamos no dia seguinte. Ainda tínhamos dois dias pela região, e o plano inicial era seguir para Siena e visitar lugares como San Gimignano, Monteriggioni e Volterra. Mas chegamos à conclusão de que já tínhamos vivido o suficiente do cenário toscano — e que talvez fosse hora de mudar de ares antes de voltar a Florença para devolver o carro.
Foi aí que demos uma guinada no roteiro: reservamos um hotel na pequena cidade de Passignano sul Trasimeno, na região da Úmbria, a cerca de 85 km de San Quirico. Na manhã seguinte, logo após o café, deixamos as colinas douradas, os campos de lavanda e trigo, os vinhedos e oliveiras e as vilas medievais da Toscana para trás, com a certeza de que tínhamos tido o privilégio de desfrutar de uma das viagens mais especiais de nossas vidas.
Em menos de 1h30, estávamos em um novo cenário de sonho — com direito a lago, montanhas, vilarejos pitorescos, passeio de bike, deliciosos frutos do mar (nham!!!) e outra atmosfera. O Lago Trasimeno não é muito conhecido pelos brasileiros, mas adoramos cada minuto que passamos por lá, e concluímos que foi uma decisão mais que acertada incluir, de última hora, sem muito planejamento, esse passeio no nosso roteiro.

Assim é a Itália: muitos países em um só país. É preciso muito mais que uma única viagem para explorar tudo que a bota tem para oferecer. Roma, Florença, Toscana. Esse trio, em si, é espetacular, especialmente para explorar assim, sem pressa, curtindo sua cultura, seus costumes, sua gastronomia, enquanto a gente vai se perdendo entre ruas de pedra, castelos medievais, catedrais seculares, arte renascentista, e muita, muita história.
Para saber mais sobre nossa viagem pela Itália, leia também os outros posts dessa série:
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