Sob o sol da Toscana - parte 1
- Virna Miranda
- 5 de fev.
- 10 min de leitura
Atualizado: 6 de abr.
Esse título pode até parecer clichê, mas temos que admitir que o filme romântico protagonizado por Diane Lane foi um dos responsáveis por transformar a Toscana no destino de sonho de muita gente, inclusive o meu... Ok, nunca pensei em largar tudo e comprar uma quinta escondida no meio do nada, mas tinha muita vontade de fazer uma viagem no bom estilo slow travel pela região. E é por aqui que vamos começar...
Existem várias formas de conhecer a Toscana e diria que não tem a certa ou a errada. Tudo depende do seu estilo de viagem e, claro, do seu apetite por percorrer sem pressa minúsculas cidades de pedra penduradas em montanhas ou escondidas em vales verdes, cercados por vinhedos e campos de trigo. Hai capito?
Enfim, muita gente quer conhecer a Itália em uma única viagem, o que é praticamente impossível. Existem tantas infinitas e diferentes "Itálias" que seriam necessárias pelo menos umas seis ou sete viagens para diferentes cantos do país para se ter uma real dimensão de tudo que ele oferece. O trio "Roma-Florença-Toscana" é um clássico. Acho que 15 dias são suficientes para esse roteiro; se for incluir Veneza, acrescente pelo menos 2 dias extras na conta. Mas voltando à Toscana...
É comum optar pelo básico: Florença (que é a capital) e alguns bate-voltas para cidades mais conhecidas, como Pisa, Luca e alguma vinícola da região do Chianti, bem do ladinho de Florença. Outros arriscam ir um pouco mais longe e incluem um ou dois pernoites em lugares como Siena, San Gimignano ou Montalcino. Mas se você realmente quer viver a autêntica experiência de voltar no tempo e mergulhar na atmosfera medieval da Toscana, faça como a gente: alugue um carro, escolha um ou dois pontos de base para se hospedar e dedique pelo menos 5 ou 6 dias (sem contar os dias em Florença) para percorrer estradas e paisagens deslumbrantes, entrando e saindo de vilas históricas e castelos medievais, enquanto se delicia ao longo do caminho com queijos de cabra e massas frescas com molhos suculentos, regados a muito, muito vinho. Porque a Toscana é simplesmente isso: um banquete não só para os olhos, mas para todos sentidos.
Se você chegou até aqui e já está com vontade de tirar férias e comprar a passagem, vem comigo nesse post para sonhar um pouquinho com o que te espera nessa viagem no mínimo mágica pela Toscana.
Florença: nosso ponto de partida
Seja qual for o seu roteiro, certamente ele começará por Florença. A capital da região toscana tem localização super central e fica pertinho de inúmeras cidades, cada uma com história e charme únicos. A Toscana está dividida em algumas "zonas" que concentram várias atrações, como o Val D'Orcia, onde estão Montepulciano, Montalcino e Pienza, o Val d'Elsa, onde estão situadas San Gimignano, Volterra e Monterigionne e a região do Chianti, bem conhecida pela famosa estrada Chiantigiana e pelas vinícolas que produzem o famoso vinho Chianti. Em nossos 6 dias pela Toscana, escolhemos dois lugares como base para nos hospedarmos e a partir dali explorar os arredores: as cidades de Castellina in Chianti e San Quirico D'Orcia, essa última no Vale de mesmo nome. Então, depois de 3 dias passeando pela cidade conhecida como o berço do Renascimento (saiba mais nesse post), embarcamos em nosso carro alugado e pegamos a estrada.
Pelas curvas da Chiantigiana
Também conhecida como Strada Regionale 222, os 134 km da Chiantigiana ligam a capital da Toscana a Siena, enquanto atravessam as plantações de uva e olivas do Chianti. É uma das rotas panorâmicas mais bonitas da Itália, com vistas deslumbrantes a cada curva. Tão logo deixamos Florença, começamos a serpentear pelas colinas e campos, em direção a Castellina, onde iríamos nos hospedar. Poucos minutos depois, chegamos na Vinícola Antinori nel Chianti Classico, que queríamos muito conhecer. O lugar é emblemático: é uma das mais antigas e renomadas vinícolas da Itália, com origens que remontam ao ano de 1385, mas sua sede em Bargino tem uma arquitetura moderna e espetacular. O complexo oferece a oportunidade de conhecer a história da propriedade e da família Antinori, percorrer os vinhedos, degustar diferentes vinhos Chianti e ainda comprar algumas garrafas na deslumbrante loja do lugar. Também tem um restaurante no terraço acima da icônica escadaria, mas achamos caríssimo (e também precisa fazer reserva). Degustamos uma taça de vinho na loja mesmo, fizemos umas comprinhas, tiramos fotos e seguimos viagem.
Com a fome apertando, recorremos ao GPS para encontrar alguma parada para almoçar. Achamos um lugar com boas avaliações no Google, 10 minutos a frente, e resolvemos arriscar. Saímos da rota principal e adentramos por uma estradinha que levava a um vilarejo chamado Badia a Passignano. Foi uma daquelas descobertas que só é possível quando se resolve largar o plano de lado e se perder por aí... Logo, ficamos sabendo que essa cidadezinha cercada por uma paisagem deslumbrante de vinhedos e colinas é conhecida por sua abadia medieval e suas conexões com a família Antinori. Chegamos então ao DiVino, um pequeno restaurante com um terraço panorâmico e uma vista "divina" para um vinhedo. Charmoso, lindo e aconchegante, o DiVino ocupa o espaço onde anteriormente funcionava a oficina de ferraria do pai da atual proprietária e a decoração preserva elementos históricos, com ferramentas antigas que remetem ao passado do local. Informal, a especialidade da casa são os panini, que degustamos com um Chianti geladinho, enquanto admirávamos encantados o visual deslumbrante do vale.
Castellina in Chianti e a Festa de Pentecostes
Após a nossa deliciosa refeição, retomamos a viagem para finalmente chegar a Castellina in Chianti. Nosso hotel ficava na beira da estrada, um pouco antes da chegada à cidade. Instalado em uma antiga casa de fazenda do século XV, o Colle Etrusco Salivolpi preserva o passado de forma encantadora. A construção de paredes brancas de pedra e tetos com vigas de madeira é rodeada por colinas cobertas de vinhedos e oliveiras. Todos os detalhes são encantadores, das camas de ferro forjado ao café da manhã servido no jardim com produtos fresquinhos. Com a tarde chegando ao fim, depois de se nos instalarmos, resolvemos passear em Castellina. Como eram apenas 200 metros até o centro, decidimos caminhar. Curtindo o visual das casinhas na beira de estrada, em poucos minutos estávamos na cidade.
Com menos de 3 mil habitantes, este antigo burgo repleto de estradinhas de pedra, ritmo pacato e construções medievais, é um dos mimos da região do Chianti, e já vou adiantar que foi um dos nossos cantinhos preferidos na Toscana. Entramos no centrinho com o dia chegando ao fim e para nossa surpresa descobrimos que estava rolando um evento na cidade: a Festa de Pentecostes, uma celebração anual que geralmente acontece em maio ou junho, coincidindo com o período de Pentecostes. Para nossa sorte, era justamente nesse final de semana e o lugar estava em festa! Acontece assim: cerca de 40 produtores de vinho da região montam barraquinhas de degustação na Via delle Volte, uma viela escondida entre as ruínas da antiga cidade. Você entra por arco, percorre um caminho curto com vista espetacular para as colinas e sai do outro lado. É nessa passagem secreta que a galera faz a festa. Você compra uma taça de vinho (vazia) por 20 euros, pendura no pescoço e pode degustar os vinhos que quiser, enquanto os produtores vão contando as histórias de suas vinícolas e apresentando seus produtos. Nem preciso dizer que ficamos trelelês de tanto vinho. Amamos a farra.
Pra rebater, jantamos na Taverna Squarcialupi, um restaurante super aconchegante, com uma vista deslumbrante e uma comida divina.
Montefioralle
No dia seguinte, tomamos um delicioso café da manhã e partimos para explorar as pequenas cidades do Chianti. Nossa localização era super estratégica, distante em média 20 minutos dos principais atrativos da região. Começamos por uma jóia: o Castello di Montefioralle, considerado um dos borgos medievais mais lindos da Itália.

Paramos o carro no estacionamento que fica na base, que já estava bem lotado quando chegamos. Foi difícil conseguir uma vaga, mas bingo, achamos um cantinho, deixamos o carro e subimos a colina a pé.
Montefioralle é uma das cidadezinhas mais antigas do Chianti. Seu aspecto atual é do início do século XVI, com casas incrustadas na muralha elíptica utilizando as pedras das torres destruídas durante o ataque do Imperador Carlos V.
A pitoresca aldeia medieval tem apenas 60 habitantes. Caminhar pelas ruas de pedra, com suas casinhas de portas floridas, é uma viagem pelo passado.

Greve in Chianti
Aos pés de Montefioralle, está a famosa Greve in Chianti. Com uma rica história que remonta ao século XI, quando a região era governada pela família dos Condes de Greve, a cidade é cercada por colinas cobertas de vinhas, oliveiras e bosques, o que a torna uma paisagem incrível.


Estacionamos o carro e fomos caminhar no centrinho, que tem como coração a Piazza Matteotti.

Com muitos restaurantes e lojas no quadrante, o lugar estava bem movimentado. É aqui que fica a Antica Macelleria Falorni, uma loja de embutidos fundada em 1806, e que já passou por nove gerações da família Falorni.

No local, é possível curtir a experiência de comprar um cartão e carregar com crédito que pode ser usado nas máquinas de auto-serviço espalhadas pela loja, para degustar os mais famosos vinhos do Chianti.


Descendo a escadinha, você chega em uma espécie de porão onde queijos e embutidos são maturados.


A experiência é legal, mas não gostamos muito da comida. Pedimos um sanduíche cujo pão veio bem seco.

Panzano in Chianti
Seguimos para a vizinha e pacata cidade de Panzano, distante apenas 5 km de Greve. Nessa região, tudo é muito pertinho e o melhor nem são as cidades em si, mas seu entorno. São parreiras e olivais a perder de vista.

Panzano é uma pequena vila medieval, com arquitetura bem preservada e casas de pedra espalhadas pelas colinas. Estacionamos o carro nos arredores e caminhamos até o centrinho. Logo encontramos um food truck da famosa Antica Macelleria Cecchini, do chef Dario Cecchini, que se tornou lendário na Toscana por sua paixão pela carne e sua habilidade em transformar a profissão de açougueiro em uma arte. Natural de Panzano, ele mantém na cidade uma pequena rede gastronômica, que inclui, além do truck, uma icônica açougueria de mesmo nome. Mas seu empreendimento mais famoso é a Officina della Bisteca, restaurante que tem como carro-chefe a famosa bistecca alla fiorentina e oferece uma viagem completa pelos maravilhosos sabores da Toscana por um valor fixo por pessoa. Infelizmente, tentamos fazer reserva uns dois meses antes da viagem e já não tinha mais disponibilidade para a data em que te estaríamos na região. Uma pena...


Paramos para conferir a lojinha da Cecchini e passeamos um pouco pelo centro de Panzano, curtindo a atmosfera do lugar.
Voltamos então para Castellina para um repeteco do animado festival de Pentecostes, encerrando a programação desse dia maravilhoso em nossa simpática cidade de hospedagem.
Radda in Chianti
No dia seguinte, tomamos café no hotel e partimos para explorar mais algumas cidadezinhas da região do Chianti. Logo mais a tarde iríamos partir para o Val D'Orcia, para a segunda etapa do nosso tour pela Toscana. Mas ainda tínhamos tempo, então pegamos a estrada e fomos conhecer 3 lugares que ficam muito pertinho: Radda, Gaiole e Volpaia.
Quinze minutos após deixarmos nosso hotel, chegamos a Radda. Naquele horário de manhã, a pequena vila medieval estava vazia e silenciosa. De origem etrusca, Radda é conhecida por sua arquitetura medieval bem preservada e pela bela muralha do Século XIV que rodeia seu centro histórico.

Caminhamos um pouco entre as ruas e becos de pedra e tiramos algumas fotos das casinhas de pedras saídas de contos de fadas.
Passamos pela porta de uma simpática igrejinha e tomamos um café ali ao lado.


No caminho para Gaiole, nossa próxima parada, paramos para tirar fotos de um vinhedo na beira da estrada.

Nessa mesma estrada, nos deparamos com uma linda propriedade medieval, que descobrimos ser um hotel. Curiosos, subimos a colina com o carro para conhecer.
Gaiole in Chianti

Gaiole é outra joia do Chianti Classico. Um tico de gente e mais discreta do que suas vizinhas, a cidade nos recebeu com sua atmosfera pacata e ruas tranquilas.
Perambulando pelas ruas do centrinho, encontramos um lugarzinho perfeito para uma pausa, chamado La Cantinetta del Chianti. Sentamos em uma mesinha no meio da praça e pedimos uma tábua de queijos artesanais e duas taças de vinho branco geladinho.
Nos despedimos de Gaiole e seguimos para um dos destinos mais aguardados do dia: o Castelo de Volpaia.
Castelo di Volpaia

Muitos chamam de Castelo, mas Volpaia na realidade é um burgo medieval, ou seja, uma pequena cidade em torno do que um dia foi um castelo. As ruas estreitas são de pedra, como muitas outras vilas toscanas, mas a atmosfera é um pouco diferente, e confesso que me fascinou. Não tem aquele buxixo turístico. Só casas antigas, cercadas por muros de pedras, plantas e jardins.

A cantina La Bottega de Volpaia é um dos atrativos do local, e foi onde almoçamos.

As mesas de madeira na varanda, em meio a um jardim com pergolados floridos, são projetadas para uma vista para os vinhedos de tirar o fôlego. Mais que um almoço, vivemos ali uma experiência muito autêntica da Toscana, inebriados pela beleza e sossego do lugar.

Depois do almoço, fomos caminhar pelas ruelas do burgo e se existem moradores por lá, nessa hora estavam todos tirando uma boa soneca, pois não vimos uma única alma por onde passamos, nem local, nem turista... Muito menos carro, bicicleta, moto... Nada!

Entramos e saímos de ruas que pareciam cenário de um filme da Idade Média, cercados pelo silêncio e por uma magia única e inesquecível. Eu simplesmente me apaixonei por esse lugar e saímos com a sensação de termos descoberto um tesouro escondido, daqueles que não são citados em blogs e roteiros mais óbvios.
O lugar perfeito para encerrar a primeira etapa do nosso roteiro pela Toscana. Dali, seguiríamos viagem para San Quirico D'Orcia, nossa segunda base, localizada na região do Vale D'Orcia, onde passaríamos os próximos dias. Nessa etapa, além de San Quirico, conhecemos outras joias da Toscana: Montalcino, Pienza e Montepulciano.
Para saber mais sobre nossa viagem pela Itália, leia também os outros posts dessa série:
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